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Foto do escritorEliza Pereira

O Restaurante no Mar (Parte 1)

Atualizado: 10 de fev. de 2022


Tela por Sari Shryack


"Sentia meu corpo salgado, e isso não me incomodava tanto quanto deveria, na realidade, estava mais estupefata com a visão monumental de um restaurante no meio do mar.

Não tinha ideia de como aquele restaurante havia surgido ali, sabe, eu notaria antes se tivesse algo parecido... Mesmo de longe não tinha como ignorar aquilo. Será, que eu tinha nadado demais? Eu não parecia estar longe da praia, e de fato, quando olhei ainda conseguia ver a areia e não só água salgada.

Alcancei a escada que dava acesso ao restaurante e a medida que subia os degraus minha pele secava instantaneamente, mas o sol não estava agressivo e visivelmente não tinha nenhum secador apontado para a minha "cara". Eu senti como se estivesse sendo beijada pelo sol em um enlace caloroso e confortável, lembro exatamente dessa sensação pois há pouco tempo havia sentado em uma sacada próxima ao sol e o mundo pareceu parar, nenhuma conversa alcançava meus ouvidos, não havia som, tudo estava muito distante dos meus sentidos sensoriais. Era como se eu estivesse sentada, literalmente, com a companhia do sol em um silêncio confortável, e juro, não tinha usado nada ilícito e muito menos ingerido tanto álcool para aquilo.


O restaurante além de enorme era lindo, algo fora da realidade, começando pelas portas enormes que davam acesso para um salão que lembrava muito aqueles onde aconteciam bailes reais no período monarca. Entrei em passos tímidos, e caminhei por entre as mesas, enquanto estava dentro de um biquíni amarelo.

Por um momento um pensamento são (chato) passou pela minha cabeça "O que eu estou fazendo aqui?", sendo sincera, nunca fui a definição de exploradora ou destemida, quando havia algo desconhecido ao alcance das mãos (ou pés) eu era a primeira a dar um passo pra trás e questionar "por quê?", estávamos confortáveis no conhecido, então, por qual motivo se arriscar? Mas naquele momento em que tudo parecia um sonho lúcido decidi só seguir e não ouvir a parte de mim que me impedia.


O lugar estava lotado de pessoas de todos os tipos e faixa etárias. Alguns conversavam entre si, outros estavam concentrados em enormes filas, essas eram tão grandes que eu não tinha certeza do que havia no começo delas, muitos usavam roupas de banho, mas tinha certa porcentagem vestida elegantemente como se não fizesse calor do lado de fora. Havia uma escada que levava para a parte de cima do salão, avistei alguns homens apoiados no corrimão de ferro, eles vestiam ternos brancos e gravatas borboletas pretas, o cabelo arrumado perfeitamente com gel, jurava que podia sentir o perfume amadeirado deles dali debaixo.


Continuei seguindo sem muita certeza do que estava fazendo em uma mistura de medo com diversão. De repente alguma música latina começou a entoar por alguns autofalantes espalhados pelo restaurante, os autofalantes pareciam antigos esteticamente, mas o som era limpo como uma caixinha da JBL. Pouco a pouco algumas pessoas começaram a dançar em pares e até mesmo sozinhas.

E olha, eu amava muitas coisas na minha vida, mas em especial amava dançar. Juntou esse sentimento e o fato de que ninguém ao redor me conhecia, e logo eu estava no meio do salão, sozinha, dançando descalça e de biquíni como se estivesse sobre o chão do meu quarto.


Não me lembro como e nem quando aquele rapaz chegou perto de mim, mas quando dei por mim sua mão estava erguida em minha direção me pedindo, sem palavras ditas, uma dança. Seus olhos brilhavam, mas não tinha malicia alguma neles, cedi minha mão e em um leve puxão nos unimos iniciando aquela salsa cubana.

Se pudesse descrever em palavras sobre passos ou o que aconteceu exatamente ali, eu faria, no entanto era impossível, mas posso resumir que foi algo mágico, uma alegria contagiante que ninguém queria que acabasse mesmo se os ossos estivessem caindo de tão exaustos. Sentia meus olhos fechando em alguns momentos junto com uma vontade enorme de gargalhar. O Trombone, trompete, maracas, flauta e todos os instrumentos alcançavam meus ouvidos e perambulavam por todo meu corpo era como se aquela altura meus pés, mãos, quadril e cintura mexessem sozinhos obedecendo o ritmo.

Era tudo genuíno e sem explicação, algo que eu senti algumas vezes na infância, por exemplo quando fui na minha primeira festa junina em uma cidade pequena ou fui ver um evento de capoeira que meu tio participaria, guardo esses momentos como o ápice da minha nostalgia, uma euforia tão grande e sem justificativa para sustentar esse sentimento com a razão.


Dancei junto do meu par pelo salão inteiro e o tempo se fazia congelar naquelas notas musicais.



A dança se estendeu até alcançarmos uma parte isolada daquele imenso salão, obscura mesmo, paramos quase sem fôlego na frente de uma parede cheias de janelas com espaços quadrados e uma porta que tinha a mesma forma. A vidraçaria era fosca então só conseguíamos ver algumas luzes amarelas em alguns cantos do espaço."



Continua...


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